O PROJETO

A agricultura, segundo dados de Rodrigues (2017), consome cerca de 70% de toda a água utilizada pelas atividades humanas, cabendo à indústria e ao abastecimento público os demais 20 e 10%, respectivamente. Conforme as mudanças climáticas se agravam torna-se imperioso que as práticas agrícolas considerem cada vez mais o contexto da disponibilidade hídrica local e regional, já que nunca se preocupam com a preservação e otimização de uso dos recursos hídricos especialmente quando de empreendimentos afetos ao agronegócio. Com práticas agrícolas insustentáveis e impactantes sobre os recursos hídricos, aumenta-se inexoravelmente a pressão sobre os aquíferos - repositório de águas subterrâneas - dos países com grandes territórios agrícolas.

Imagem de celular com páginas internas do projeto com o perfil do Cage

Nos Estados Unidos, por exemplo, onde as culturas de milho e soja se estendem por gigantes áreas de monocultura, a opção sempre foi de extração de águas subterrâneas armazenadas, por exemplo, no aquífero Ogallala (estados de Dakota do Sul, Nebraska, Wyoming, Colorado, Kansas, Oklahoma, Novo México e Texas, coração agrícola do país). Há décadas os níveis de água desse fabuloso aquífero, entretanto, vem sendo rebaixados e hoje a diferença entre os níveis monitorados desde a década de 60 já alcança dezenas de metros. A partir dessa depressão continuada, muitos poços de água vem secando, obrigando os produtores agrícolas a perfurarem poços cada vez mais profundos, o que leva inevitavelmente ao rebaixamento cada vez mais rápido dos níveis piezométricos (nível do lençol d’água), alimentando um círculo vicioso e autodestruidor. Não é à toa que esse território hoje padece sob um grave regime de falta d’água crônica, o que vem ameaçando uma das maiores áreas agrícolas do mundo.

No Brasil já começamos a viver problemas semelhantes, seja pelo uso intensivo e descontrolado das águas subterrâneas do aquífero Guarani, por exemplo, seja pela sobreexplotação de águas superficiais (rios, lagos e lagoas), ou mesmo pela destruição silenciosa das nascentes com a inevitável transformação de rios perenes em rios intermitentes ou mesmo pelo desaparecimento definitivo de rios. As consequências para a agricultura são óbvias. Infelizmente, os impactos não terminam aí. Como muitos municípios brasileiros têm suas águas de abastecimento público extraídas diretamente de águas de rios, crescem também as ameaças à segurança hídrica das populações que veem suas águas de abastecimento se tornarem cada vez mais escassas e/ou comprometidas pelo mal gerenciamento das bacias hidrográficas.

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Como forma de se reverter esse cenário, e ao mesmo tempo não se comprometerem as atividades e produtividades agrícolas, vem surgindo no país uma forma muito urgente e promissora de se manejarem esse territórios de forma sustentável: a técnica agrícola dos Sistemas Agroflorestais Sucessionais(*). Relatos de economia de até 90% de água de irrigação sob esse regime agrícola vêm sendo registrados em muitos depoimentos e reportagens. Esses dados quantitativos, entretanto, carecem de uma abordagem e monitoramento científico sistemáticos, de forma que ainda não se pode aquilatar com precisão numérica os benefícios efetivos dos sistemas agroflorestais sobre os recursos hídricos. O CDTN, instituto de pesquisa da CNEN/MCTIC, através de seu Serviço de Análise e Meio Ambiente (SEAMA) vem envidando esforços financeiros e de recursos humanos nos estudos dos recursos hídricos superficiais (rios, lagos e lagoas) e subterrâneos (águas de aquíferos) a partir da aplicação de técnicas nucleares específicas para essa área de conhecimento.

Esforços financeiros e de recursos humanos nos estudos dos recursos hídricos superficiais (rios, lagos e lagoas) e subterrâneos (águas de aquíferos) a partir da aplicação de técnicas nucleares específicas para essa área de conhecimento. Entretanto, ainda não se pôde iniciar nenhum estudo focado nessas relações, pois não se dispõe de um banco de dados espaciais que congregue os registros locacionais dos Sistemas Agroflorestais.

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Mapa de Localização de SAFs (à esquerda) e mapa de Densidade de Ocorrências de SAFs (à direita)

O mapa dinâmico da nossa plataforma ilustra a Localização de SAFs no país; sua representação em círculos assume cinco grupos possíveis de tamanhos, os quais são proporcionais ao número de SAFs registrados em cada ponto. Esse tipo de mapa é muito útil para reconhecermos as localizações e as quantidades de SAFs no Brasil e está consolidado no mapa acima. Entretanto, quando o número de registros já é muito grande para uma determinada região (como por exemplo na região do estado de São Paulo e entorno), ocorre uma sobreposição indesejável de informação e esse tipo de representação cartográfica começa se tornar pouco clara. Assim, apresentamos na figura acima também os mesmos dados do mapa dinâmico mas na forma de Densidade de Ocorrências, ou seja, registros por unidade de área (número de SAFs para cada 1.000 km²), distribuídos em dez classes. É considerada nessa representação não somente a distância entre a localizações dos registros como também pesa o número de SAFs registrados em cada ponto. Desta forma, a partir do mapa acima é possível se perceber onde se concentram mais detalhadamente as iniciativas dos SAFs que já estão no nosso banco de dados.

Assim, esta plataforma tem como objetivos principais

  • Apresentar, incrementar e detalhar o primeiro mapa de SAFs Sucessionais do Brasil.

  • Viabilizar num futuro próximo, a partir da disponibilidade de dados de localização desses SAFs, o início dos necessários estudos quantitativos afetos aos seus impactos benéficos sobre os recursos hídricos superficiais e subterrâneos.

  • Oferecer aos pesquisadores do CDTN (e instituições afins) um rol de regiões potencialmente favoráveis a sediarem pesquisas que visem o entendimento desses benefícios a partir da aplicação de técnicas nucleares (assinaturas isotópicas) e de técnicas correlatas (quantificação de vazão de rios).

(*) SAFs Sucessionais – Sistemas agrícolas baseados, simultaneamente, no (1) consórcio em fluxo contínuo de espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas; (2) aporte contínuo de matéria orgânica através do manejo de podas seletivas. MAPSAF

Em alguns casos pode haver grande imprecisão da localização dos SAFs (especialmente quando os SAFs estiverem indicados em área urbana), pois nem sempre há dados locacionais precisos que permitam seu posicionamento correto. Assim, o projeto não assegura a localização precisa dos SAFs cadastrados!